quinta-feira, 6 de agosto de 2015

QUEM TEM MEDO DE UM ATEU?

     Há alguns escritores que, pela competência, permanecem bem vivos na literatura depois que morrem. Outros, ainda mais importantes, ficam pela competência e pela coragem. 
      Tal foi o caso do inglês Bertrand Russell, prêmio Nobel de Literatura em 1950, autor que deixou uma vasta obra, sem falar em sua atividade pacifista e no fato de ele ter sido um dos grandes matemáticos do século 20. 
       Um dos livros mais conhecidos de Bertrand Russell é Por que não sou cristão, onde ele aponta os motivos pelos quais não acreditava nas promessas do cristianismo e, mais além, expõe por que defendia o ateísmo. 
       Russell, grande lógico que era, destrinça os argumentos usados para as defesas do cristianismo e de Deus e chega a conclusões arrasadoras, tão arrasadoras que muito se escreveu contra ele. Muito mesmo. Alguns de seus debates foram antológicos. Os adversários se calaram.
       Imagino que, mesmo nos dias de hoje, um escritor brasileiro teria dificuldade de publicar aqui, em primeira mão, um livro tão contundente quanto Por que não sou cristão, em função de nossas tradições religiosas. Acontece que o livro se baseia numa palestra feita na Inglaterra em 1927, portanto há quase 90 anos. Provocou uma grande comoção ao sair, mas os ingleses bancaram a independência intelectual de Russell, assim como haviam feito com Darwin. 
       Talvez essa independência ajude a explicar por que tenhamos ficado no banco de trás, por tanto tempo, no bonde da história. Nos dias de hoje, em que o rancor religioso é pregado abertamente por determinadas seitas no Brasil, em que supostos "guerreiros de Jesus" conclamam para guerras santas, os alertas de Bertrand Russell soam absolutamente atuais. Vale a pena conhecê-los, independentemente da crença. Ateus não cobram dízimo quando tentam ajudar.

2 comentários:

lucabarbabianca disse...

Lembrar Russel é sempre oportuno e, nos dias intolerantes que estamos vivendo, este texto que se refere a ele - caprichado e bem escrito - é muito bem-vindo. Só botaria um pequeno reparo: que eu saiba ele nunca se disse ateu e sim agnóstico, pois achava tão difícil provar a existência quanto a inexistência de Deus. Decorei esta definição de Russel: vida virtuosa é a inspirada pelo amor e guiada pelo conhecimento.

BlogdoLuísGiffoni disse...

Sim, você tem razão, Luca. Ele se dizia agnóstico, por uma questão de lógica. Mas nunca deu qualquer demonstração de que a falta de prova o levasse à crença, como, por exemplo, fez Pascal. Aliás, a falta de prova lógica para um ser divino pode ser estendida a qualquer entidade, Alá, Javé, Shiva, Zeus etc. A definição de vida virtuosa é perfeita.