O que é a paixão? Uma fera solta na
selva da vida que devemos enfrentar com unhas, dentes e riscos? Ou negar a paixão seria a grande isca para a fúria do animal selvagem que habita
o fundo da alma humana?
Henry James, escritor norte-americano que se tornou
inglês vitoriano, trabalha essas questões em sua novela de oitenta páginas A Fera na Selva. E, em tão curto espaço, deixa-me perplexo com
sua intuição, talento, capacidade criadora, além da profunda análise
psicológica que antecipa e ultrapassa Freud.
A
Fera na Selva é um mergulho na complexidade da consciência que foge a
regras, estudos e convenções. Trata do relacionamento de John Marcher e May
Bartram, um casal inglês marcado desde a juventude pela impressão de que algo
raro e estranho, ao mesmo tempo prodigioso e terrível, aconteceria a John, e
ambos transformam essa premonição em motivação para a vida. Aguardar o evento
extraordinário, que aparentemente nunca chega, marca o relacionamento de John e
May. Esperam Godot com meio século de antecedência.
John é extremamente egoísta. Ela se mostra algo simplória, porém, ao final da vida, atina que o grande evento
havia ocorrido e reza para que o companheiro não o descubra, pois a revelação
lhe abalaria a sanidade. Ao lado do túmulo de May, John acaba inferindo a
verdade, final e absoluta: o vazio. Com esse enredo, singelo à primeira vista,
Henry James tece uma trama envolvente, refinada, perspicaz, densa, que prende a
atenção.
Deve-se viver ou evitar a paixão? Para
Henry James, ela vale a pena. Concordo. Uma boa paixão nos garante a vida.
Nem que seja por um dia. O resto fica para a insanidade.
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