Sempre que vejo falsos religiosos
pregando nas tevês com a maior cara de pau, penso nos 300 e tantos picaretas do
Congresso Nacional que um conhecido político certa vez afirmou existirem no Senado e na Câmara. Uns e outros são farinha do mesmo saco. Uns e outros me
remetem a Tartufo, um dos mais famosos personagens de Molière, o maior
dramaturgo francês.
Tartufo é, também, o nome da peça que ele protagoniza, das
mais encenadas do teatro. Tartufo é fingido, hipócrita, mentiroso, corrupto, chantageador,
desleal, falso religioso, interessado apenas em tirar dinheiro daqueles a quem faz
as mais devotas pregações.
A peça estreou em 1664, portanto há 351 anos, e
continua atualíssima. Provocou violenta reação do clero da época, ficando
proibida por alguns anos. Quem a visse ou encenasse foi ameaçado de excomunhão
pelo arcebispo de Paris.
Leia Tartufo para ver
como a canalhice não muda através dos séculos. Depois, ligue a tevê, escute atentamente os canais
religiosos com apelo financeiro, analise as técnicas de persuasão utilizadas,
em seguida compare os debates no Congresso com a verdadeira atuação, nos
bastidores, de deputados e senadores. O resultado é puro teatro, o teatro de
Molière, a falsidade de Tartufo até a exaustão. Uma tartufada sem fim.
Acontece
que Tartufo, no final da peça, é desmascarado. No Brasil, isso ainda está longe
de acontecer. Nossos Tartufos continuam depositários da moralidade. A cada dia
que passa, Molière estremece no túmulo por nós.
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