quinta-feira, 13 de agosto de 2015

O REI DA PICARETAGEM

      Sempre que vejo falsos religiosos pregando nas tevês com a maior cara de pau, penso nos 300 e tantos picaretas do Congresso Nacional que um conhecido político certa vez afirmou existirem no Senado e na Câmara. Uns e outros são farinha do mesmo saco. Uns e outros me remetem a Tartufo, um dos mais famosos personagens de Molière, o maior dramaturgo francês. 
      Tartufo é, também, o nome da peça que ele protagoniza, das mais encenadas do teatro. Tartufo é fingido, hipócrita, mentiroso, corrupto, chantageador, desleal, falso religioso, interessado apenas em tirar dinheiro daqueles a quem faz as mais devotas pregações. 
        A peça estreou em 1664, portanto há 351 anos, e continua atualíssima. Provocou violenta reação do clero da época, ficando proibida por alguns anos. Quem a visse ou encenasse foi ameaçado de excomunhão pelo arcebispo de Paris. 
       Leia Tartufo para ver como a canalhice não muda através dos séculos. Depois, ligue a tevê, escute atentamente os canais religiosos com apelo financeiro, analise as técnicas de persuasão utilizadas, em seguida compare os debates no Congresso com a verdadeira atuação, nos bastidores, de deputados e senadores. O resultado é puro teatro, o teatro de Molière, a falsidade de Tartufo até a exaustão. Uma tartufada sem fim. 
    Acontece que Tartufo, no final da peça, é desmascarado. No Brasil, isso ainda está longe de acontecer. Nossos Tartufos continuam depositários da moralidade. A cada dia que passa, Molière estremece no túmulo por nós.

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