Existe unanimidade quanto ao
maior romance da língua espanhola : é o Dom Quixote, de Cervantes. Muitos também
o consideram o marco inaugural do romance moderno. Deliciosamente picaresco e
grotesco, Dom Quixote de la Mancha parodiou e criticou as histórias de
cavalaria.
Mas haveria, na literatura espanhola, um antecessor dele, um germe
que viesse a brotar com maior viço na cabeça de Cervantes? A resposta é sim. Há
alguns.
Um deles é “A vida de Lazarilho de Tormes”, publicado em 1554, quando
Cervantes tinha apenas sete anos. Com espírito picaresco e grotesco, Lazarilho
de Tormes é quixotesco meio século antes de Dom Quixote. Ninguém sabe quem o escreveu,
mas, pelas críticas que o pequeno livro faz, era um erudito, bem informado
sobre as mazelas da época, sobretudo as da Igreja católica, principal vítima do
autor.
No entanto, é na sátira à cavalaria que os dois livros mais se aproximam.
Lazarilho serve a um escudeiro que tem o perfil de Dom Quixote, inclusive em
algumas imagens que lhe são agregadas, como a triste figura, a sorte adversa, a
defesa da honra, a falsa nobreza. O próprio Lazarilho, com seu apego à
realidade, é um rascunho de Sancho Pança.
Isso mostra que, por mais originais
que julguemos os autores, nenhum escapa às influências de seus antecessores. No
entanto, alguns, através de seus temperos exclusivos, linguagem elaborada, metáforas
incomuns e genialidade própria, levam a fama. Shakespeare que o diga. Desculpe
o lapso. Cervantes que o diga.
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